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Poema à boca fechada

Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.


in OS POEMAS POSSÍVEIS, José Saramago

Na segunda hora de Júpiter do dia de Vénus

Comentários

  1. Olá Shinita, por incrível que pareça nunca li um livro do José Saramago.Paz à sua alma.Beijocas.

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  2. Fatinha querida

    eu gosto muito de Saramago e curiosamente o último livro que comprei fio «O Memorial do Convento» que nunca li e desejava fazê-lo. Talvez «Todos os Nomes» fosse um livro que te aconselhava, pois vale a pena experimentar a liberdade que é ler Saramago.

    beijocas querida

    ResponderEliminar
  3. Shin

    Cá estou. Atrasada mas não posso deixar de estar contigo na homenagem a este senhor das palavras.

    Todos os nomes é também o que mais gosto. Identifiquei-me...

    E gostava do Saramago. Viveu de acordo com o que acreditava e assumiu as consequências. Nem todos podem dizer o mesmo.

    Que descanse em Paz e estou certa que está no céu...naquele à maneira dele.

    bjs

    ResponderEliminar
  4. Ido o que eu continuo a gostar mesmo mais é A Jangada de Pedra por ter sido o meu primeiro. PEdra que me iniciou num dos melhores escritores tugas. Porém, o Ensaio sobre a Cegueira é fabuloso.

    Obrigada pela presença e sensatez na despedida, sabes que andei às voltas querendo deixar um final e não consegui pelas convicções dele! :)

    ResponderEliminar

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